Vemos a Sra. Rasch chegar a casa depois de um dia normal de trabalho, e entregar-se às tarefas quotidianas. Pelo meio ouve um programa de rádio que podia ser uma segunda casa, uma outra vida dentro da dela. Fuma, come, arruma, lava…

Quem é esta mulher? Como vive? Que história nos conta? Que mundo é o seu?



O alemão Franz-Xaver Kroetz escreveu este texto em 1971. Políticamente empenhado, move-o a urgência de despertar as pessoas para a realidade em que vivem. Mas o mero discurso político seria aqui redutor. O que ele faz é lançar-nos num abismo. Paira uma sombra sobre esta mulher, imperceptível como uma epidemia cuja maleita ainda não se manifestou, e cujas causas, passíveis de esgrimir em contrastes políticos, não perspectivam aqui nenhuma solução.

É na natureza do quotidiano, no seu mais absoluto concreto, que nos detemos, deixando que seja essa sequência rotineira e interminável de acções – fragmentos de vida – a revelar o sentido duma existência.

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